sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Comunidade redescobre cemitério abandonado

À beira da rodovia que liga Imigrante a Colinas, restos de lápides espalhados em um terreno cercado de pedra formam o cenário de um antigo cemitério, em Seca Baixa. Até pouco tempo encobertos pelo matagal, túmulos dos séculos XIX e XX despertam a atenção da comunidade, que até então desconhecia ou ignorava esse espaço histórico da cidade. As sepulturas, que resistem ao tempo, foram “reveladas” em junho, segundo o historiador José Alfredo Schierholt, responsável por solicitar à prefeitura a limpeza da área. Diante da descoberta, o abandono foi o que mais chamou a atenção. “Os descendentes dos lá enterrados passam por lá, bem como autoridades, professores e lideranças, e não enxergam, não sentem nada.” Para a moradora da Seca Baixa Ione Lindner, o fato de o cemitério estar em situação crítica é uma incógnita. “Eu não sei por que está daquele jeito. Chamaram a atenção a antiguidade e o tempo que ficou escondido. Moro aqui há 31 anos e nunca tinha visto aqueles túmulos”, destaca. Ione conta que, acompanhada da filha, foi averiguar as sepulturas depois de libertadas da macega. “Queria saber quais sobrenomes havia lá e achei muito curioso que, em terra colonizada por alemães, as lápides guardam sobrenomes italianos e brasileiros que, na maioria, não têm familiares por aqui”, observa. O estado do cemitério é motivo de indignação para o historiador. “Sinto tristeza e certa raiva. A descoberta foi feita por pessoas de fora. Mas não é o único caso. Há outros cemitérios abandonados pelo Vale do Taquari. Quem souber deve denunciar”, aconselha Schierholt.

Datas
O historiador calcula que o cemitério da Seca Baixa, localizado a cerca de três quilômetros da divisa com Colinas, deve ter medido em torno de 15 metros de largura por 30 de comprimento. A data mais antiga de sepultamento é 15 de outubro de 1893, de Manuel da Costa Leite, um dos primeiros povoadores de Arroio da Seca, nascido em 1855 e casado com Isabel de Souza Pereira. O último é de 1939, de Belmira Sabino de Souza. “Se a maioria dos mortos é luso-brasileira, há quatro sepulturas da família italiana Tonini”, destaca Schierholt.

Cobrança
Diante da situação atual do cemitério, o historiador sugere: “A comunidade tem que tomar conhecimento da realidade e decidir pela conservação. Se não tiver mais descendentes diretos, o município tem que investir”. Enquanto isso, a secretária municipal da Educação, Cultura, Desporto e Turismo, Edí Fassini, diz que não teria como responder, sem antes contatar com o Poder Executivo, se a Administração Municipal se envolverá na conservação do espaço. “É um cemitério antigo da comunidade. Não é uma área da municipalidade e, por conta disso, não tenho como dizer algo neste momento”, coloca.

Remanescente
Entre as mais de dez lajes tumulares caídas na vegetação, restou apenas uma em pé. Trata-se das sepulturas de Belmira Sabino de Souza e José Sabino da Silva, tropeiro e povoador em Soledade, que veio a ser um dos primeiros moradores na Seca Baixa. Deu origem ao nome de Sanga do Sabino. Eles são bisavós do morador da Seca Baixa Romildo Sabino da Silva (86). A filha de Romildo, Liane Elizabete Sabino da Silva, comenta que, quando criança, visitava o cemitério acompanhada da avó. “Enquanto conseguimos cuidar e manter os túmulos fizemos isso. Só que depois minha avó e minha mãe morreram, os irmãos do meu pai saíram daqui, e o cemitério, aos poucos, foi ficando abandonado. Hoje eu não tenho como conservá-lo, até gostaria, mas tudo na vida tem um fim, até os túmulos”, menciona.
Cíntia Marchi
O Informativo

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